Snowden
revelaçþes conspiratórias
Publicado: setembro 6, 2020 em economia e negĂłcios, G-1, politica e debates_08/09/2013 22h31 â Atualizado em 08/09/2013 23h28
Dados estĂŁo em registros obtidos com exclusividade pelo FantĂĄstico.
No entanto, nĂŁo foi possĂvel saber o que a NSA buscava sobre a empresa.
Do G1, com informaçþes do FantĂĄstico</a class=âshare-bar share-bar-container share-theme-naturalâ data-title=âPetrobras foi alvo de espionagem de agĂŞncia dos EUA, aponta documentoâ/span>
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Novos documentos classificados como secretos e que vazaram da AgĂŞncia de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglĂŞs) dos Estados Unidos, obtidos com exclusividade pelo FantĂĄstico, mostram que a Petrobras, quarta maior petroleira do mundo, tambĂŠm foi espionada.(veja o vĂdeo ao lado)
A reportagem exibida neste domingo (8), aponta que a rede privada de computadores da estatal brasileira foi invadida pela NSA, informação que contradiz a posição oficial da agĂŞncia, dada ao jornal âThe Washington Postâ, onde afirmou nĂŁo fazer espionagem econĂ´mica de nenhum tipo, incluindo o cibernĂŠtico.
Os dados sobre a empresa estĂŁo em documentos vazados por Edward Snowden, analista de inteligĂŞncia contratado pela NSA, que divulgou esses e outros milhares de registros em junho passado. O jornalista Glenn Greenwald foi quem recebeu os papĂŠis das mĂŁos de Snowden. A Petrobras nĂŁo quis comentar o caso. A NSA nega espionagem para roubar segredos de empresas estrangeiras.
Na Ăşltima semana, o FantĂĄstico jĂĄ havia divulgado que a presidente Dilma Rousseff e o que seriam seus principais assessores foram alvos diretos de espionagem da NSA.
O novo documento ĂŠ uma apresentação que recebeu a classificação âultrassecretaâ e que foi elaborada em maio de 2012, para ensinar novos agentes a espionar redes privadas de computador â redes internas de empresas, governos e instituiçþes financeiras e que existem, justamente, para proteger informaçþes.
O nome da Petrobras, a maior empresa do Brasil, aparece logo no inĂcio do documento mostrado pelo FantĂĄstico, com o tĂtulo âMuitos alvos usam redes privadasâ.
Não hå informaçþes sobre a extensão da espionagem, nem se a agência americana conseguiu acessar o conteúdo guardado nos computadores da empresa. O que se sabe, segundo a reportagem, Ê que a Petrobras foi alvo de espionagem, mas não hå informaçþes a respeito dos documentos que a NSA buscava.
Este tipo de informação ĂŠ liberada apenas para quem os americanos chamam de âFive eyesâ (cinco olhos, na tradução literal), termo utilizado para se referir aos cinco paĂses aliados na espionagem: EUA, Inglaterra, AustrĂĄlia, CanadĂĄ e Nova Zelândia.
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Google e governo da França tambĂŠm foram vĂtimas
O nome da Petrobras aparece em vĂĄrios slides. AlĂŠm da estatal, estĂŁo listados tambĂŠm como alvos da NSA a infraestrutura do Google, o provedor de e-mails e serviços de internet da companhia. A empresa, que jĂĄ foi apontada como colaboradora da agĂŞncia norte-americana, desta vez aparece como vĂtima.
As redes privadas do MinistĂŠrio das Relaçþes Exteriores da França e da Swift (Sociedade para Telecomunicaçþes Financeiras InterbancĂĄrias Globais, na tradução do inglĂŞs), cooperativa que reĂşne mais de 10 mil bancos de 220 paĂses, tambĂŠm foram analisadas. Qualquer remessa de recursos que ultrapassa fronteiras nacionais necessita ser analisada pela Swift.
Nomes de outras empresas e instituiçþes que tambÊm passaram por espionagem foram apagados para não comprometer operaçþes que, segundo a reportagem, envolvam alvos ligados ao terrorismo.
Para cada alvo hĂĄ uma pasta que reĂşne todas as comunicaçþes interceptadas e os endereços de IP â a identificação de computadores ligados Ă rede privada â que deveriam estar imunes a esses ataques.
De acordo com Greenwald, esses documentos trazem informaçþes de segurança nacional que nĂŁo devem ser publicadas, por isso os vetos aos nomes. âNinguĂŠm tem dĂşvida que os Estados Unidos, assim como todos os outros paĂses, tĂŞm direito de fazer espionagem para garantir a segurança nacional. Mas tem muito mais informaçþes (âŚ) sobre espionagem contra inocentes ou contra pessoas que nĂŁo tĂŞm nada a ver com terrorismo ou questĂľes industriaisâ, explica.

Espionagem pode ter durado muito tempo
De acordo com Paulo Pagliusi, doutor em segurança da informação e autor de um livro sobre o tema, todas as redes privadas apresentadas nos documentos da NSA exibidos pelo FantĂĄstico sĂŁo de empresas reais, nĂŁo sĂŁo casos fictĂcios.
âTanto ĂŠ que tem algumas coisas que chamam a atenção. Por exemplo, havia alguns nĂşmeros que estavam tapados. Por que eles estariam tapados se nĂŁo fosse um caso real e nĂŁo queriam que os alunos tivessem conhecimentoâ, questiona o especialista. Ainda segundo Pagliusi, tais informaçþes podem ter sido obtidas no decorrer de um longo perĂodo, com a ajuda de um sistema de espionagem âmuito eficazâ, que gera um resultado âmuito poderosoâ.
Segundo a reportagem do FantĂĄstico, o faturamento anual da Petrobras ĂŠ de mais de R$ 280 bilhĂľes, maior do que a arrecadação de muitos paĂses. A estatal brasileira tem ainda dois supercomputadores utilizados para as chamadas pesquisas sĂsmicas, que avaliam as reservas de petrĂłleo a partir de testes feitos em alto mar. Com esta tecnologia a empresa conseguiu mapear o prĂŠ-sal, a maior descoberta recente de novas reservas de petrĂłleo no mundo.
A rede privada de computadores da empresa tambÊm guarda informaçþes estratÊgicas associadas a negócios que envolvem bilhþes de reais. Por exemplo, detalhes de cada lote de leilão marcado para outubro, que Ê a exploração do Campo de Libra, na Bacia de Santos, parte do prÊ-sal.
Segundo Roberto Villa, ex-diretor da Petrobras, o leilĂŁo de Libra ĂŠ o maior da histĂłria do petrĂłleo. âĂ um leilĂŁo de uma ĂĄrea que jĂĄ se sabe que tem petrĂłleo, nĂŁo tem risco. [Se essa informação vazou], alguĂŠm vai ter vantagem. Eventualmente, se essa informação vazou e alguĂŠm dispĂľe dela, ele vai numa posição muito melhor no leilĂŁo. Ele sabe onde carregar mais e onde nem carregar. Ă um segredinho bomâ, explica Villa.
Para AntĂ´nio Menezes, tambĂŠm ex-diretor da estatal brasileira, o possĂvel vazamento de informaçþes sobre o campo do prĂŠ-sal ĂŠ muito grave e impactaria o mercado internacional. âComercialmente, o efeito internacional disso aĂ ĂŠ de uma concorrĂŞncia com carta marcada pra alguns lugares, alguns paĂses, para alguns amigosâ, disse.
Questionado pela reportagem sobre quais informaçþes sigilosas da Petrobras poderiam ter sido procuradas, Adriano Pires, especialista em infraestrutura, disse que, se fosse espião, buscaria principalmente aquelas ligadas à tecnologia de exploração de petróleo no mar.
âA Petrobras ĂŠ a [empresa] nĂşmero um no mundo em explorar petrĂłleo no mar. E o prĂŠ-sal existe em qualquer lugar do mundo: na Ăfrica, no Golfo americano, no Mar do Norte. EntĂŁo, se eu detenho essa tecnologia, posso tirar [petrĂłleo do] do prĂŠ-sal onde eu quiserâ, afirma o especialista.
Como funciona
Na apresentação da Agência de Segurança Nacional dos EUA, aparecem documentos preparados pela Agência de Espionagem da Inglaterra, aliada dos americanos em questþes de espionagem.
Os registros feitos pelos ingleses mostram como funcionam dois programas: âFlying Pigâ e âHush Puppyâ, que monitoram as redes privadas por onde trafegam as informaçþes que deveriam ser seguras. Essas redes sĂŁo conhecidas pela sigla TLS/SSL.
As redes TLS/SSL são tambÊm o sistema de segurança usado em transaçþes financeiras, como, por exemplo, quando alguÊm acessa seu banco por um caixa eletrônico. A conexão entre o ponto remoto e a central do banco trafega por uma espÊcie de túnel protegido na internet: o que passa por ele ninguÊm poderia ver.
A apresentação da NSA explica ainda como a interceptação das informaçþes ĂŠ realizada. De acordo com o documento, a espionagem ĂŠ feita por meio de um ataque Ă rede de computadores conhecido como âman in the middleâ (ou homem no meio, na tradução do inglĂŞs). Nesse caso, os dados sĂŁo desviados para a central da NSA e, depois, chegam ao destinatĂĄrio, sem que ninguĂŠm fique sabendo.
Os documentos divulgados por Snowden tambÊm listam os resultados obtidos na espionagem. Segundo a reportagem, com o sistema de espionagem, a NSA encontrou dados de redes de governos estrangeiros, companhias aÊreas, companhias de energia, como a Petrobras, e organizaçþes financeiras.
A apresentação da NSA mostra ainda, com detalhes, como os dados de um âalvoâ escolhido por eles vĂŁo sendo desviados, passando por filtros de espionagem desde a origem, atĂŠ chegar aos supercomputadores da agĂŞncia norte-americana.
Em um dos registros divulgados por Snowden e obtido pelo FantĂĄstico, a NSA diz que a AmĂŠrica Latina ĂŠ alvo chave do programa âSilverzephyrâ. O programa registra metadados, o total de informaçþes que trafega na rede, e o conteĂşdo de gravaçþes de voz e fax.
Dilma cobrou explicaçþes de Obama
No Ăşltimo domingo (1Âş), o FantĂĄstico mostrou como a presidente do Brasil foi alvo direto de espionagem (veja vĂdeo ao lado). Na Ăşltima quinta-feira (5), Dilma se reuniu com o lĂder polĂtico norte-americano, Barack Obama, durante o encontro dos 20 paĂses mais desenvolvidos do mundo (o G-20), na RĂşssia, e cobrou explicaçþes.
âO que eu pedi ĂŠ o seguinte: eu acho muito complicado ficar sabendo dessas coisas pelo jornal. Eu quero saber o que hĂĄ. Se tem ou nĂŁo tem, eu quero saber. Tem ou nĂŁo tem? AlĂŠm do que foi publicado pela imprensa, eu quero saber tudo que hĂĄ em relação ao Brasil. Tudo. Tudinho. Em inglĂŞs, everythingâ, disse Dilma a jornalistas.
Na última sexta-feira (6), Dilma afirmou que Obama se comprometeu a dar explicaçþes sobre as denúncias de espionagem dos EUA atÊ a próxima quarta-feira (11).
âO presidente Obama declarou para mim que assumia a responsabilidade direta e pessoal pelo integral esclarecimento dos fatos e que proporia para exame do Brasil medidas para sanar o problema. Diante do meu ceticismo devido Ă falta de resultados do encontro entre o ministro da Justiça, JosĂŠ Eduardo Cardozo, e o vice-presidente [Joe] Biden, ocorrido semana passada, o presidente Obama me reiterou que ele assumia a responsabilidade direta e pessoal tanto para a apuração das denĂşncias como para oferecer as medidas que o governo brasileiro considerasse adequadasâ, declarou a presidente na RĂşssia.
Dilma afirmou ter dito a Obama que a questĂŁo nĂŁo era de âdesculpasâ, mas de uma solução rĂĄpida. Segundo ela, estabeleceu-se a prĂłxima quarta-feira como prazo para uma resposta. âComo eu disse que esse processo era um processo lento, que nĂŁo queria esclarecimentos tĂŠcnicos, nao era sĂł uma questĂŁo de desculpas,era uma questĂŁo de nĂŁo admissĂŁo desse nĂvel de intrusĂŁo, e que era importante que fosse solucionado com rapidez, chegou-se a uma data, quarta-feiraâ, afirmou Dilma.
Quebra de criptografia
A reportagem do FantĂĄstico mostra ainda que no dia em que a presidente e Obama se encontraram, reportagem publicada simultaneamente por dois grandes jornais â o inglĂŞs âThe Guardianâ e o americano âThe New York Timesâ â , revelou que a NSA e a GCHQ inglesa quebram os cĂłdigos de comunicaçþes protegidas de diversos provedores de internet, podendo assim espionar as comunicaçþes e transaçþes bancĂĄrias de milhĂľes de pessoas.
O texto mostrou que a criptografia, o sistema de códigos que Ê fornecido por algumas operadoras de internet, jå vem com uma vulnerabilidade, inserida propositalmente pela NSA, e que permite que os espiþes entrem no sistema e atÊ façam alteraçþes, sem deixar rastros.
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HĂĄ tambĂŠm sinais de que alguns equipamentos de computação montados nos EUA jĂĄ saem de fĂĄbrica com dispositivos de espionagem instalados. O âNew York Timesâ diz que isso foi feito com pelo menos um governo estrangeiro que comprou computadores norte-americanos. Mas nĂŁo revela qual governo pagou por equipamentos para ser espionado.
Outro lado
A NSA enviou nota afirmando que nĂŁo usa sua capacidade de espionagem para roubar segredos de empresas estrangeiras. Questionada pelo FantĂĄstico sobre o motivo de ter espionado a Petrobras, a agĂŞncia norte-americana informou que isso ĂŠ tudo o que tem a dizer no momento.
Após a exibição da reportagem no Fantåstico, uma segunda nota de imprensa, desta vez assinada pelo diretor nacional de inteligência dos Estados Unidos, James Clapper, foi enviada pela Agência de Segurança Nacional.
O órgão do governo americano alega coletar informaçþes econômicas e financeiras para prevenir crises que possam afetar os mercados internacionais.
No entanto, reafirmou que nĂŁo rouba segredos de empresas de fora dos EUA que possam beneficiar companhias americanas. A Embaixada Britânica em BrasĂlia e o MinistĂŠrio das Relaçþes Exteriores do Reino Unido informaram que nĂŁo comentam assuntos de inteligĂŞncia.
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