Suas Habilidades do Futuro - Autogestão
Suas Habilidades do Futuro - Autogestão
Na edição anterior da newsletter, falei sobre as habilidades relativas à Solução de Problemas. O grupo que trago hoje é o das habilidades para exercer a Autogestão, dividido pelo WEF em duas sub-habilidades, em demanda em várias profissões emergentes:
- Aprendizagem ativa e estratégias de aprendizagem.
- Resiliência, tolerância ao estresse, flexibilidade e inteligência emocional.
De acordo com um estudo realizado em 2020 pela empresa Gallup, sobre engajamento e bem-estar das equipes nas empresas, 20% dos funcionários entrevistados mostraram-se engajados no trabalho e 32% sentem-se prosperando. E esse prosperar tem relação com uma visão positiva da sua situação atual e a visão de futuro, dos próximos 5 anos. (Lead with Humanity, 2021)
Esta pesquisa confirma os dados levantados ao longo do Fórum Econômico Mundial, ao listar as habilidades do grupo Autogestão.
Autogestão
Em todas as edições desta série sobre AS HABILIDADES DO FUTURO, tenho ressaltado a importância do foco estratégico no desenvolvimento de novas competências. E que entre outras necessidades, as lideranças precisam se manter atualizadas e antenadas para comporem equipes de alta performance com vistas aos novos cenários que ainda estão por vir.
Neste sentido, temos um grande desafio, que começa pela autogestão. Considerando que 40% das habilidades atuais tendem a mudar até 2025 e o processo é contínuo, 50% dos funcionários deverão rever suas habilidades e adquirir novas, como mostram as figuras a seguir, do WEF.
Aqui entra a aprendizagem ativa, a indispensável adoção de estratégias de aprendizagem, inclusive de trabalhar a resiliência, a tolerância ao estresse, a flexibilidade e a inteligência emocional como um todo, para se manter em meio a constantes mudanças.
Devemos carregar em nosso DNA profissional as competências e habilidades certas para encararmos as novas realidades com sucesso!
Aprendizagem ativa e estratégias de aprendizagem
Aprendizagem ativa
Aprendizagem ativa é um processo de internalização de novos conhecimentos. Esse conceito é denominado lifelong learning ou aprendizado contínuo, por meio do qual a qualificação de uma pessoa é construída ao longo da vida.
Podemos dizer que este é um dos maiores desafios do mundo contemporâneo. Aliás, um grande desafio, porque nem todo mundo está preparado para adotar uma postura disciplinada, proativa, automotivada, entre outros atributos afins para o aprendizado que deve ser contínuo.
A questão é incorporar a mentalidade lifelong learning, e isso ocorre a partir do momento que a pessoa assimila integralmente que as transformações sempre trazem novas competências, que são necessárias novas habilidades para lidar com o desconhecido, com as tendências, as novidades, os obstáculos, os desafios de transitar entre o presente e o futuro.
“O lifelong learning parte de uma premissa muito simples: o aprendizado não tem data para acabar. Mesmo depois dos diplomas – do ensino básico, da faculdade ou da especialização, por exemplo –, é necessário adotar uma postura aberta ao conhecimento. [...] Não seria nenhum exagero dizer que o mindset do lifelong learning desponta, também, como um valioso diferencial competitivo.” (Paulo Lira - Gestor Acadêmico da HSM University, HSM Management, 2022)
“O dinamismo do mercado corporativo exige que tenhamos um mindset aberto para explorar novas experiências e o lifelong learning é aquele feeling que sempre buscamos para as situações mais adversas.” (Marcelo Ciasca - CEO da empresa Stefanini Brasil, Forbes, 2022)
Estratégias de aprendizagem
As estratégias de aprendizagem são um elenco de técnicas e métodos que direcionam, dão suporte à construção do conhecimento, que estimulam o interesse e alimentam o saber, o aprendiz. Sendo essa fome do saber insaciável, porque o aprendizado é progressivo, contínuo.
Porque, a partir do momento que você incorpora esse mindset, passa a administrar sua autonomia para ampliar o conhecimento no seu ritmo, no seu tempo. A partir daí, o lifelong learner reflete sobre seus interesses e suas necessidades e passa a buscar tudo aquilo que gosta de fazer, a aprender com tudo aquilo que aguça sua curiosidade, tudo aquilo que alimenta sua vida e carreira, passa a querer ir além e estar sempre um passo à frente.
“O conceito do lifelong learning está em desenvolvermos cada vez mais a habilidade de prever, de antecipar, de estar sempre atento ao movimento das transformações que vemos ao nosso redor, seja no mercado de trabalho ou sociedade. É manter um olhar 360º para identificar tendências e novas tecnologias que podem definir nosso conhecimento e direcionar ações comportamentais para uma trajetória empresarial bem-sucedida.” (Ciasca, Forbes, 2022)
Há várias estratégias de aprendizagem, contudo, no tocante à aprendizagem continuada, o lifelong learning se apresenta com uma tendência no universo corporativo.
A estratégia lifelong learning alicerça-se em quatro pilares (FIA, 2021):
- Aprender a conhecer: ter curiosidade para aprender, adquirir conhecimento de maneira questionadora e “ter prazer por esse processo”.
- Aprender a fazer: “Existe uma metodologia de aprendizagem chamada 70:20:10”, ou seja, “Apenas 10% do aprendizado é adquirido de cursos, 20% resulta da interação com outros indivíduos e 70% vem de experiências próprias.” - o que leva a crer que o maior peso é o fazer, vivenciar. “a prática faz com que o conhecimento se torne um hábito”.
- Aprender a conviver: este pilar corresponde aos “20% do modelo 70:20:10”, ou seja, “A interação com outras pessoas permite aprimorar o conhecimento”. Toda “troca tem o poder de promover o aprendizado”
- Aprender a ser: é apropriar-se da autonomia para o próprio aprendizado, autogerir-se para gradativamente alimentar o próprio potencial, o conhecimento.
E assim, vai se formando um ciclo evolutivo, que prepara as pessoas para o hoje e para o amanhã, em um processo essencial para refinar o autoconhecimento, para o saber-se, de modo exaltar a capacidade de administrar as próprias emoções e ser emocionalmente inteligente, resiliente, flexível e tolerante ao estresse, para o enfrentamento dos desafios da vida.
Resiliência, tolerância ao estresse, flexibilidade e inteligência emocional
Estas são soft skills que - juntas - dão um sentido às habilidades multifuncionais das lideranças, ao gerenciamento de seus estressores, ao seu equilíbrio diante de conflitos e desafios do cotidiano, de situações inesperadas e as adversidades que se avolumam de maneira célere - um pacote de requer que se conheçam os próprios limites.
São skills que se evidenciaram e colocaram os indivíduos à prova quando a pandemia chegou e assolou do menor ao maior diante de tantas perdas irreparáveis, do bem-estar, da qualidade de vida tão afetada, diante de uma economia incerta, diante das preocupações organizacionais, pessoais e profissionais.
Para além das hard e soft skills, sobre as quais tanto falamos, há outras três muito importantes, que se destacaram bastante nos últimos tempos e se somam ao perfil dos profissionais dos novos tempos, que são as inner, power e human skills:
Inner skills (Habilidades intrapessoais):
- consciência (visão do certo/errado)
- autoconsciência (autopercepção)
- desapego (o dispensável)
- percepção (interpretação)
- gratidão (receber/acolher o bem)
- concentração (foco no que é importante)
- energia pessoal (intensidade)
- equilíbrio e temperança (ponderar/equilibrar)
Human skills (Habilidades humanas):
- conhecimento, habilidades e atitudes (para entrega de resultados)
- capacidade de entender mais sobre si mesmo (autoconhecimento)
- capacidade de entender mais sobre o seu em torno (conhecimento)
- capacidade de aprender e exercer todas as demais skills.
Power skills (Habilidades de poder):
- comunicação (clara/assertiva)
- proatividade (tomar atitude)
- empatia (olhar o outro)
- autogestão (autoconhecimento/autodisciplina)
Indivíduos que combinam as suas skills adquirem uma autoconfiança e lidam com perspectivas positivas as adversidades. Se mantêm no centro do seu equilíbrio mesmo diante de dificuldades e mudanças, da celeridade global que temos visto no dia a dia. Não são subtraídos em sua vitalidade mesmo em meio a contratempos.
O estresse é o mal do século, dizem. Mas feliz daquele que consegue lidar com isso com tolerância, conseguindo suportar a pressão em todos os seus níveis.
A flexibilidade, por sua vez, é aquele amortecedor. Quem a tem, mesmo envergando, não quebra. Ajusta-se, não cede àquilo que ao mesmo tempo que pode massacrar, pode ser revertido em oportunidade. O que comprova que caos pode levar ao despertar, uma vez que aquilo em que a gente coloca a atenção tende a definir aquilo que escolhemos potencializar.
Claro que como seres humanos, todos somos passíveis de passar por crises, dúvidas e situações conflitantes. Somos passíveis de errar e aprender com os erros - nossos e dos outros. E quando falamos sobre inteligência emocional, resiliência, flexibilidade, tolerância, inclusive ao estresse, não se trata de se tornar “o inabalável” e nem de ser o tempo todo “zen”, trata-se de utilizar a sabedoria interna para fazer as escolhas certas.
Você já ouviu falar na filosofia budista do respirar - na respiração atenta, consciente? Quanto tempo você consegue ficar sem respirar?
Respiração? E o que isso tem a ver com as skills aqui tratadas? Sim, respiração, afinal, ninguém vive sem respirar.
Fora as pessoas que treinam para isso (atletas, por exemplo), as pessoas em geral variam entre 1 e 2 minutos, alguns mais outros menos que isso, porque não têm técnicas de respiração atenta, consciente para usar a reserva de oxigênio dos pulmões.
E esta é uma boa comparação, porque saber respirar é exercer autocontrole, uma vez que os pensamentos e as emoções mexem com a respiração e a respiração também mexe com os pensamentos e as emoções. E a respiração consciente restitui a calma, o equilíbrio.
“O inspirar é passivo e o expirar é ativo e com isso,você toma consciência do seu estado emocional, que naturalmente está alterado [...]”. (Monja Coen, ao falar dos momentos de crise ao longo da pandemia, e como voltar ao eixo por meio de uma respiração consciente e eliminar o estresse, CNN, 2020)
Trata-se saber que cada coisa tem o seu tamanho e complexibilidade e que podemos potencializar isso positiva ou negativamente mediante nossas escolhas. E respirar conscientemente é perceber-se saindo do eixo e exercitar a suas habilidades genuínas para voltar a ele.
Este é um exercício de autogestão, que confere a capacidade de administrar, controlar, gerir os próprios sentimentos, de ter autocontrole, de recuperar a autonomia em situações adversas e potencializar a superação e a autoconfiança.
Concluindo
Autogestão é uma habilidade indispensável, sem a qual todas as demais acabam sendo afetadas pela falta de controle de si mesmo. Esta habilidade coloca a sabedoria do lidar consigo e com os outros em primeiro plano, uma vez que há momentos que precisamos avançar e em outros recuar.
Em alguns momentos precisamos ser mais persuasivos ou mais ousados, agir com mais intensidade ou com mais leveza, manter o foco, lidar com pontos fortes, pontos fracos, com crises e riscos e tomar decisões, inclusive impopulares.
A aprendizagem nos aperfeiçoa pessoal e profissionalmente, e por um lado, apura nossas skills - técnicas (hard), sociais, comportamentais (soft), humanas (human), de força (power), intrapessoais (inner); e por outro lado, nos edifica, por meio da construção do conhecimento.
Lifelong learning é uma estratégia de aprendizagem que estimula essa edificação, que deve acontecer de dentro para fora, porque do contrário, não é propósito e não se sustenta.
O meu desenvolvimento pessoal e profissional está totalmente vinculado ao lifelong learning. Como docente, CEO, consultor e palestrante, recomendo como fator crucial para o sucesso, incentivo meus alunos, clientes, familiares e amigos, a todos nesse sentido.
Porque acredito na importância de abrir-se para o novo e oxigenar o cérebro, oxigenar a vida, oxigenar o saber. Isso nos refina e nos torna emocionalmente inteligentes, aguça nossa atenção, a nossa capacidade cognitiva. É saudável em todos os sentidos.
Ainda falamos muito em Covid-19, porque esse fato mexeu com as bases de todas as pessoas e organizações. Entretanto, deixando um pouquinho de lado as irrecuperáveis mazelas, e olhando pelo viés da oportunidade, cada pessoa pôde perceber como a sua vida pessoal e profissional vinha sendo administrada.
As pessoas que se sentiram ou estavam de fato mais preparadas ativaram seu conhecimento e passaram a pensar estrategicamente no que poderia ser feito para mudar o que não estava bom, além da necessidade de pensar e agir em prol de uma adaptação àquele momento, a fim de não perderem seus empregos, tudo o que já tinham conquistado, investido, planejado.
Viu-se e ouviu-se a respeito de uma sucessão de ideias, criatividade, inovação, descobertas, oportunidades, viradas em muitas carreiras, confirmando a premissa de que nunca é tarde ou cedo demais para aprender, ensinar, desenvolver e fazer acontecer.
A urgência de novas perspectivas de mundo tornou vital que empresas e profissionais recarregassem suas energias para se integrarem às disrupções do momento intensificado no decorrer da pandemia e, com isso, repensar modelos organizacionais e de gestão, inclusive de autogestão.
Enfim, o mundo se transformou, e falando em disrupção, essa é uma realidade impulsionada pela tecnologia, que acabou reinventando algumas profissões, criando novas - e este é um caminho sem volta.
As empresas estão atentas ao dinamismo do presente e às tendências para um futuro não muito distante. Sabem que é importante desenvolver continuamente a sua força de trabalho, suas equipes, sabem que é urgente aderir à tecnologia, preparar-se, qualificar-se e requalificar-se para melhorar sua produtividade, e que somente assim se manterão competitivas.
E por falar em Tecnologia e Desenvolvimento, este é o foco da edição final da série: AS HABILIDADES DO FUTURO. Não perca!
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Muitas empresas e muitos profissionais estão cientes da realidade, mas ainda não sabem por onde começar. Se você é um deles, podemos falar sobre como concretizar sua visão!
Vamos conversar a respeito?
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Prof. Victor Mirshawka Jr.
REFERÊNCIAS
CIASCA, Marcelo. Lifelong learning e a constante evolução profissional. Forbes. 19 jul. 2022. Disponível em: https://forbes.com.br/forbes-tech/2022/07/marcelo-ciasca-lifelong-learning-e-a-constante-evolucao-profissional/
CNN. Monja Coen ensina respiração consciente para manter a calma durante isolamento. [...] e como acabar com o estresse. 7 abr. 2020. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/saude/monja-coen-ensina-respiracao-consciente-para-manter-a-calma-durante-isolamento/ e https://www.youtube.com/watch?v=5L5bGsF4Gts
FIA. Lifelong learning: conceito, objetivos, pilares e vantagens. 12 mar. 2021. Disponível em: https://fia.com.br/blog/lifelong-learning-conceito-objetivos-pilares-e-vantagens/
LEAD WITH HUMANITY. Stress Tolerance. 7 jul. 2021. Disponível em: http://leadwithhumanity.co.za/stress-tolerance/
LIRA, Paulo. Você já ouviu falar em lifelong learning? HSM Management. 10 ago. 2022. Disponível em: https://www.revistahsm.com.br/post/voce-ja-ouviu-falar-em-lifelong-learning-entenda-esse-conceito
WORLD ECONOMIC FORUM. The Future of Jobs Report 2020. Disponível em: https://www.weforum.org/reports/the-future-of-jobs-report-2020/in-full/infographics-e4e69e4de7
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