O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO COM OS SEUS DADOS?
O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO COM OS SEUS DADOS?
Você já imaginou um mundo onde todas as suas preferências e gostos pudessem ser acessados por pessoas e empresas? Como seria se fosse possível saber os lugares onde vai, o que gosta de fazer, quem são seus amigos, onde são suas férias, qual seu restaurante preferido, quais os filmes, músicas e livros gosta, as pessoas que gosta (e as que não gosta), quais suas posições políticas, filosóficas e religiosas, sua orientação sexual, sua origem étnica e seu estado de saúde? Como você se sentiria se fosse possível descobrir novas coisas com base em todas essas informações, até coisas que você não saiba sobre você mesmo?
E se todas essas informações pudessem ser usadas contra você, para lhe discriminar indevidamente, oferecendo serviços ou produtos por um preço maior, retirando você de certos mercados, sendo usadas para tornar seu seguro, plano de saúde ou até mesmo o crédito mais caro? E se certos produtos e serviços nem fossem oferecidos para você, pois aparentemente não seriam para o seu perfil?
Como seria se o seu empregador baseasse oportunidades de promoções, ou mesmo sua despedida, com base nas informações que você deu em uma rede social e nem imaginava que poderiam ser usadas para essas finalidades? E se o seu perfil, derivado dessas informações anteriores, permitisse que você tivesse somente certos tipos de emprego e não outros?
O que poderia acontecer se os governos verificassem que a sua opinião sobre política não está alinhada com a posição dominante e usassem isso para lhe perseguir? Como você se sentiria se fossem mapeadas suas atividades mais básicas, como andar pela cidade, pegar um ônibus, táxi ou outros meios de transporte? Como você se sentiria se os governos soubessem todos os produtos que você compra e esses dados pudessem ser utilizados para atividades que você nem imagina? Como seria o mundo se todos pudessem ser facilmente identificados, mesmo à distância, com base em atributos pessoais, como formato do rosto e impressões digitais ou com base nas coisas que carrega? E se, mesmo sem que você queira, fosse possível descobrir todos os lugares em que você já foi, com quem você esteve e quais lugares você estará no futuro? E se além de governos, empresas também pudessem ter acesso a todas essas informações? E se não fosse necessária uma ordem judicial para autorizar alguém a ver tudo isso?
E se além das informações que você fornece voluntariamente, outras informações pudessem ser recolhidas, sem que você perceba, por coisas que você utiliza no dia a dia? Se o seu relógio, televisão, ar condicionado e geladeira estivessem recolhendo dados sobre o seu comportamento? E se a sua televisão pudesse “ouvir” e “ver” o que você fala diante dela e isso pudesse ser visto por outras pessoas? Como você se sentiria se as reações que você tem ao ver um comercial, ou filme, pudessem ser percebidas pela TV, indicando se você gostou ou não daquele conteúdo? E se todas essas coisas pudessem perceber quantas pessoas estão na sua casa, quem são e o que estão fazendo?
E se os carros pudessem ouvir o que as pessoas falam dentro deles? E se fosse possível criar um perfil seu com base nos lugares que vai de carro e, talvez, a velocidade média que dirige e frequência com que pisa no freio? E se informações indicassem que você pode não ser um bom motorista e isso fosse compartilhado com sua seguradora ou até mesmo o seu empregador? Ou ainda, se você nem conseguisse renovar o seu seguro em face dessas informações?
E se todos os produtos que você compra no supermercado fossem mapeados e pudessem ser utilizados para finalidades que você não previu? Como seria se o seu supermercado conseguisse prever o futuro, sabendo exatamente a data que você voltará lá?
Como seria se as preferências e as ações dos seus filhos pudessem ser mapeadas pelas empresas? E se as interações entre as crianças fossem registradas e fosse possível, desde muito cedo, prever padrões sobre o comportamento delas? E se o desempenho escolar e o comportamento das crianças pudesse ser medido por outras empresas, que não as escolas, e esses dados pudessem ser usados para discriminar as crianças (por exemplo, no futuro, por um empregador)? E se outras pessoas, além dos pais, também pudessem ter acesso a esses dados?
E se fosse possível criar um perfil seu, com base em todos os sites que você já visitou na vida, inclusive aqueles mais obscenos? Como seria se os programas que você usa no seu computador e os aplicativos do seu celular não se comportassem da forma como você espera e recolhessem informações suas sem que você perceba? E se todas as fotos tiradas com o seu celular, inclusive as mais íntimas, também pudessem ser vistas por empresas e outras pessoas? E se as câmeras de monitoramento residencial – inclusive aquelas utilizadas como babysitter cam – fossem acessadas sem autorização?
Como seria se os seus deslizes, gafes e erros (incluindo aqueles cometidos quando você era criança ou adolescente) pudessem ser registrados de alguma forma? E se esses dados, uma vez tornados públicos, perseguissem você sempre que se pesquisasse o seu nome na Internet?
E se o seu perfil, criado com base em todas essas informações anteriores, estivesse incorreto? Ou imagine que você nem soubesse quem tem acesso a quais informações suas e para que as utiliza. E como seria se você não conseguisse corrigir os erros desse seu perfil? Ou o que aconteceria se ele refletisse exatamente a sua personalidade, destacando, inclusive, seus piores defeitos? E se decisões sobre sua vida fossem tomadas, sem que você pudesse se opor – ou até mesmo saber – com base nessas informações? E se você não tivesse liberdade ou poder para controlar tudo isso?
O que aconteceria, por fim, se todos esses dados e todas essas informações sobre você, incluindo as incorretas, vazassem na Internet ou fossem mal utilizados por pessoas, empresas e governos? O que aconteceria se não houvesse leis para regular essas situações ou, se as que existem, não fossem suficientes?
Como você se sentiria se eu dissesse que isso tudo já estivesse acontecendo?
FONTE: GOULART, Guilherme Damasio. O que você está fazendo com os seus dados? 2017. Disponível em: https://www.segurancalegal.com/2017/01/artigo-o-que-voce-esta-fazendo-com-os-seus-dados/. Acesso em: 20 out. 2018.
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