Como eu consegui 2 ofertas de emprego na área de dados na Europa
Primeiramente, gostaria de agradecer pela repercussão incrível que meu artigo sobre como comecei do zero e consegui meu primeiro emprego como analista de dados teve aqui no Data Hackers. Fico muito feliz por estimular futuros profissionais a acreditarem em seu potencial e seguirem em frente nessa área que é incrível, mas que às vezes parece impossível de entrar.
Hoje gostaria de compartilhar o que considero meu segundo passo na carreira, conseguir novas ofertas de trabalho mais alinhadas aos meus objetivos e mudar de emprego e cidade. Quando contei minha história aqui, relatei que havia mudado para Dublin para estudar o equivalente a uma pós graduação em análise de dados e que ali havia conseguido meu primeiro emprego como analista. Meu objetivo em Dublin era exatamente esse: terminar meu curso com uma boa nota e ter um ano de experiência em inglês. No entanto, tinha bem claro que não queria morar de forma definitiva na Irlanda (muito cinza, chuvosa e cara), eu e meu marido decidimos nos mudar para Berlim.
Passo Zero: aprender inglês
Obviamente, esse é o pré requisito número zero. Até pode ser que talvez alguma empresa vá te contratar para trabalhar com dados em português fora do Brasil, mas eu garanto que a maioria das vagas será ou para a língua local ou em inglês. Como diria Oscar Wilde, life is too short to learn German, por isso eu foquei apenas nas vagas oferecidas em inglês. Ter passado quase dois anos na Irlanda com certeza ajudaram muito, mas isso não quer dizer que é impossível conseguir um nível decente de inglês estando no Brasil. Eu sugiro que você estude tudo relacionado a dados diretamente em inglês, vai ser muito complicado no começo, mas aos poucos você se acostuma. Invista também em um curso, na escola de língua que você puder pagar, e se não puder pagar nenhuma, use o Duolingo. Pense que seus planos são de longo prazo e não tenha preguiça de começar a estudar.
Passo 1: definir para qual vaga aplicar
Como quase todo mundo, eu comecei a estudar dados pensando em ser cientista, achando que meu modelinho do Kaggle Titanic já era o suficiente para eu construir um portfólio capaz de me colocar numa vaga dessa. Porém, quando comecei a estudar a sério, vi que ser um bom cientista de dados, principalmente para alguém que estudou Gastronomia como eu, seria um plano a médio, longo prazo, e que eu deveria focar primeiro em saber analisar e manipular dados corretamente. Com meu ano de experiência como analista, foquei em vagas de Data Analyst e Business Intelligence Analyst. Essa última vaga pode ser mais técnica ou mais estratégica dependendo da empresa, por isso eu sempre lia a descrição para aplicar para aquelas que exigiam mais habilidades técnicas, já que era nessa parte que eu decidi me focar por pelo menos mais 2–3 anos.
Evite sair que nem o canhão do Super Mario atirando em todas as direções, pois você só irá perder seu tempo. Faça um currículo voltado para a vaga que você escolheu como alvo, e foque seus projetos para mostrar as habilidades que exigem com mais frequência nessas descrições. Quer um exemplo? Nas minhas pesquisas eu vi que quase TODAS as vagas para DA ou BIA exigiam um nível alto de SQL e visualização, então no meu CV eu coloquei meu projetos nessas áreas em destaque, e como projetos eu tinha não apenas notebooks cheios de código e comentários, mas também artigos em inglês (como esse e esse), meu perfil no Tableau Public com vários projetos básicos, mas que mostravam que eu sabia alguma coisa.
Só para reforçar, escolha uma vaga e foque, estude os requerimentos mais comuns. Enviar um CV genérico com projetos de redes neurais, tunagem de parâmetros de SVM e seus desafios do Kaggle, quando seu recrutador está mais interessado em saber se você sabe o que é ETL, faz com que você tenha um total de 0 entrevistas no final do dia.
Última dica, não venda o que você não é capaz de entregar. Se você colocar Tableau no seu currículo, você não precisa ser o mestre Yoda da visualização, mas saiba ao menos o básico.
Passo 2: consegui uma entrevista, o que fazer?
Ok, então você aprendeu inglês, fez projetos que tem a ver com o que você quer trabalhar e mandou vários currículos (eu apliquei para ao menos CENTO E CINQUENTA vagas antes de conseguir uma entrevista). Num dia ensolarado algum recrutador acordou de bom humor e resolveu te dar uma chance. Nesse cenário, duas coisas podem acontecer:
- Te enviarem algum teste básico para fazer: aconteceu comigo de me enviarem um teste simples (ou não tão simples) de SQL antes mesmo de falar com o RH. Se você tirar o score mínimo, daí te passam para a próxima fase, que é:
- Entrevista direta com o RH: nesse caso, ao menos nas minhas experiências, o recrutador não tinha conhecimento técnico, ele queria mais saber sobre minha experiência e soft skills para decidir se eu seria entrevistado pelo gerente da área.
Passar pelo recrutador é super importante para abrir a porta da empresa para sua candidatura. Se manter calmo, responder o que é perguntado e fazer perguntas é normal e esperado. Eu sempre pergunto o que a pessoa que está me entrevistando gosta na empresa, pois é uma maneira de mostrar que eu estou interessado na vaga e tenho um interesse genuíno em trabalhar lá.
Se você passar pelo crivo do recrutador, será convidado a ter uma entrevista com o seu futuro gerente ou chefe direto, ou pelo menos foi assim comigo para as duas ofertas de trabalho que consegui. Essa é a entrevista onde as máscaras caem.
Lembra que eu falei o quanto é importante ser honesto no CV? Então, com o seu futuro gerente as perguntas são mais técnicas e cobrem os pontos que você colocou que sabe no currículo. Antes de eu começar a estudar a sério, eu apliquei para uma vaga júnior numa empresa super legal e consegui uma entrevista, mas quando me perguntaram o que era uma WHERE clause, eu fiquei que nem a Nazaré aí em cima. Precisei desse chacoalhão para me ligar que tinha que me preparar melhor.
Passo 3: o estudo de caso! 😱
É meu amigo, minha amiga, se você conseguiu convencer o gerente que você é bom mesmo, daí provavelmente irão te mandar um estudo de caso (lembre-se, essa é a minha experiência aplicando para vagas aqui em Berlim, as coisas podem variar de lugar para lugar). É nesse passo que a criança chora e a mãe não escuta.
Nas duas vagas em que eu estava concorrendo, os estudos de caso foram:
- Empresa 1: analisar dados de uma empresa aleatória de e-commerce. Sem formato definido, sem definição de resultado esperado ou nada similar. Te dão os dados, saem correndo e depois de 4 dias você tem que entregar alguma coisa.
- Empresa 2: analisar dados da própria empresa e entregar um arquivo em Tableau depois de 3 dias com os resultados.
Detalhe, eu recebi os dois estudos de caso na mesma semana, enquanto ainda estava no meu emprego de tempo integral lá em Dublin. É, foi uma semana intensa, posso dizer.
Em relação ao primeiro estudo de caso, eu decidi mostrar todas minhas armas. Analisei os dados num colab notebook, usando visualização, estatística e cortando meu dataset com minha faca de pandas mais afiada que a espada de um samurai. Depois criei uma dashboard interativa em Tableau (que está no meu perfil no Tableau Public se você quiser dar uma olhada), e ainda por cima fiz uma apresentação em power point mostrando minhas descobertas.
Em relação ao segundo estudo, como o formato já tinha sido definido, criei 4 dashboards diferentes em Tableau, usando mapas, linhas, barras e tooltips interativas. Tomei bastante cuidado para evitar excesso de informação em cada dashboard e manter um padrão bacana de fontes e cores, afinal, saber apresentar a informação é tão importante quanto analisá-la. Mesmo sem ter sido solicitado, também montei uma apresentação pptx que poderia ser usada para apresentar os resultados para a gerência.
Passo 4: apresentar seu estudo de caso / mais entrevistas
Após enviar meus estudos de caso, cada uma das empresas tinha processos diferentes:
- Na primeira, eu tive que apresentar meu estudo de caso em 30 minutos para 5 pessoas de diferentes níveis, tinha RH, gerente de negócios, analista de dados e o cara que seria meu chefe direto. Usei minha apresentação de pptx como guia, e minha dashboard interativa para filtrar os dados na frente deles e expor meu achados de forma clara. Como só tinha uma pessoa que entendia de código, mostrei rapidamente meu notebook e falei um pouco de estatística. Treinei bastante antes, fiz minha apresentação em cerca de 15 minutos e fiquei mais uns 10 minutos respondendo as perguntas deles.
- Na segunda empresa, eles analisaram meu estudo de caso e me julgaram apto a continuar na seleção. Fui então entrevistado por um responsável de negócios sênior e depois por uma cientista de dados. Fizeram bastante perguntas sobre soft skills, como trabalho em grupo e sobre minhas experiências passadas. Também contaram mais detalhes sobre a empresa e sobre o trabalho em geral por lá. Terminei as entrevistas fazendo sempre aquela pergunta que falei antes, por que a pessoa gostava da empresa, e tive respostas bem legais.
Passo 5: esperar
Depois de todas essas entrevistas, estudos de caso e apresentações, fiquei cerca de duas semanas esperando por respostas. Um saco não é? Sim, e obviamente tive que controlar minha ansiedade. Quando deu duas semanas eu entrei em contato com a primeira empresa perguntando quando eu teria um feedback, e um dia depois me responderam falando que a vaga era minha! Fiquei super feliz, mas também havia gostado da outra empresa, por isso mandei mensagem para eles pedindo um feedback, e aqui uma coisa engraçada aconteceu.
A empresa me respondeu que ainda estavam analisando outros candidatos e que ainda demorariam uns dias para me dar uma posição. Como eu já tinha uma oferta de trabalho na manga, falei para eles o seguinte: entendo que vocês ainda estão selecionando os candidatos, porém recebi uma oferta e tenho que responder até amanhã. Pois nesse mesmo dia recebi a resposta, e consegui então minha segunda oferta de trabalho!
Para decidir, pesei os prós e contras de cada companhia, incluindo o salário, benefícios e perspectivas de carreira. Não foi uma decisão fácil, ainda mais por que foi tão difícil todo o processo, que eu queria era ter os dois empregos! Mas no final escolhi o que acreditei ser o melhor para mim, e aqui estou há quase seis meses trabalhando como Analista de Inteligência de Negócio, focado em planejamento logístico. Trabalho fazendo queries, relatórios e previsões, além de muitas reuniões com vários departamentos diferentes. E estou super feliz com o que estou fazendo!
Qual é a conclusão dessa experiência?
Para mim os pontos principais de todo esse processo são:
- Tenha uma idéia clara da onde você quer chegar.
- Invista seu tempo em aprender o que é necessário para a vaga que você almeja, trabalhar com dados é uma área gigantesca por isso é importante definir onde você se encaixa melhor.
- Crie um portfólio relevante e variado.
- Nas entrevistas, se prepare, ainda mais se for em inglês, treine, fale com o espelho, com o cachorro, mas esteja preparado.
- Estudo de caso: é um saco, é difícil, mas é essencial. Faça apenas O SEU MELHOR. Não deixe de brilhar por preguiça.
E foi dessa forma que consegui minhas duas ofertas de emprego aqui em Berlim! Como muita gente tem dúvidas em relação à visto, eu tenho um passaporte europeu, portanto não preciso de visto, mas tenho dois colegas brasileiros que trabalham com tecnologia em empresas diferentes aqui e que conseguiram o visto de boa, portanto eu não acho que seja um impeditivo, minha impressão é que as empresas valorizam o candidato correto e não se importam em investir quando encontram alguém que tenha o perfil que eles querem.
E é isso por hoje! Espero que minha experiência sirva de incentivo para você ver que é sim possível aprender e crescer profissionalmente no Brasil ou no exterior, o que é realmente importante é dedicação e comprometimento!
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