O valor da Cybersecurity para as empresas


O que fazer para a empresa aceitar ou não um processo de cibersegurança? O que fazer para o mercado formar profissionais capacitados e articulados para lidar com a matÊria?

Por: Rangel Rodrigues, ⌚ 28/08/2018 Ă s 16h52 - Atualizado em 31/08/2018 Ă s 17h51


Depois de passar uma temporada nos EUA para um curso de aperfeiçoamento profissional tive a oportunidade de conhecer um pouco do mercado na terra do Tio Sam. Ao mesmo tempo que os ataques cibernÊticos aumentam, a necessidade pela proteção de dados privados e ativos de valor para a organização tem sido a grande chave para o profissional de cibersegurança.

A demanda e capacitação destes profissionais tem aumentado, mas o nĂşmero de profissionais em cibersegurança nĂŁo tem sido o suficiente para superar esta necessidade. Conversando com alguns professores e profissionais da ĂĄrea foi factĂ­vel ouvir a escassez em que, infelizmente, o futuro da tecnologia pode estar sujeito a ser impactado. De acordo com o estudo realizado pela Deloitte, nos prĂłximos anos a necessidade por  profissionais de segurança como o Strategist, Advisor e Scientist serĂŁo os profissionais mais requisitados no mercado canadense, o que deve se estender para os EUA, Brasil, etc.

Literalmente podemos ver o gap destes profissionais devido aos seguintes pontos que precisam ser trabalhados pela sociedade tecnológica. O que fazer para a empresa aceitar ou não um processo de cibersegurança? O que fazer para o mercado formar profissionais capacitados e articulados para lidar com a matÊria? Sendo assim, durante o vôo de retorno, parei para escrever este artigo com intuito de compartilhar a visão e o valor do Cybersecurity para as empresas nos EUA e aqui no Brasil.

Pessoas gostam de usar a tecnologia, mas nĂŁo querem perder tempo em criĂĄ-las ou protegĂŠ-las – > Nos EUA, por exemplo, ĂŠ da cultura incentivar os adolescentes se tornar um Ă­cone nos esportes e naturalmente muitos tornam o sonho em realidade. Por um lado ĂŠ bom para o paĂ­s, por outro pode ser considerado um desfalque em tecnologia. Pelo menos 80% dos estudantes caminham para os esportes e sobra apenas uma pequena fatia de estudantes interessados por tecnologia. Uma boa parte das universidades americanas de tecnologia possui estudantes de outros paĂ­ses como Índia, Brasil, China, ArĂĄbia Saudita, etc. Eis, o primeiro ponto: Onde que o governo deveria investir em conscientização para que os estudantes americanos tenham mais interesse em trabalhar com tecnologia?

As maiores empresas de tecnologia tem lutado fortemente com o governo para o aumento e aprovação de visto de trabalho para estrangeiros, pois a demanda estå sendo muito alta e isso ainda tem sido um entrave para a årea.

Ainda sĂŁo poucos que falam outro idioma -> Nos estados da FlĂłrida, New York e CalifĂłrnia, a exigĂŞncia de um segundo idioma como o Espanhol e atĂŠ um terceiro como Mandarim e o PortuguĂŞs tem se tornado um requisito diferencial para vagas em TI. Por exemplo, a cidade de Miami ĂŠ considerada o hub para as empresas que possuem negĂłcios na AmĂŠrica Latina, logo o conhecimento do Espanhol e PortuguĂŞs fazem a diferença na hora da contratação. Empresas como a Amazon colocaram a cidade de Miami na lista das opçþes para implantação do seu segundo headquarters. Miami ainda ĂŠ considerada o segundo polo de business depois de New York e na FlĂłrida ĂŠ fĂĄcil encontrar empresas de tecnologia e gigantes em peso, como a Citrix, Oracle, SAP, Visa, Burguer King, Mastercard, Fortinet, e Citibank que ĂŠ forte em Fort Lauderdale e Tampa, tambĂŠm na FlĂłrida. Como por exemplo a sede da ISC2, criadora da certificação CISSP, tem seu Corporate Headquarters na cidade de Clearwater/Tampa, Florida.

Qual é o ponto positivo disso tudo? É evidente que o brasileiro tem um grande diferencial, porque além de ter que saber falar Inglês, vem o Espanhol, e agora como muitos brasileiros migrando para região a necessidade pelo conhecimento do Português tem sido uma exigência não somente em Tecnologia, mas também em outras áreas, sendo um diferencial competitivo para nós brasileiros. Esta necessidade de mudança na geografia na região tem sido um gap para os americanos que estão na corrida para aprender o Espanhol e alguns casos o Português.

Mudança no Mindset -> Como mencionado no artigo que escrevi anteriormente “O novo Cyber Security Officer”, o mercado tem exigido muito mais que um profissional que conhece de cibersegurança, mas que tenha uma visĂŁo Generalista entre o Strategist, Scientist e Advisor, complementando habilidades como Liderança e ainda saber caminhar de maneira Intencional com propĂłsito. Ou seja, ter uma visĂŁo clara do propĂłsito da posição na organização, ter foco no objetivo alinhado com o negĂłcio, nĂŁo ser insensato e sim sĂĄbio, firme e resoluto, a fim de reunir recursos e aprendizado, ser cercado de pessoas dedicadas a encontrar soluçþes para os cenĂĄrios mais complexos em uma organização e nĂŁo permitir que obstĂĄculos e oposiçþes como um vazamento de dados o detenha.

As pesquisas mostram que pelo menos 65% das empresas no EUA já sofreram um incidente em cybersecurity: (Ataques DDoS, Phishing Scam, Ransomware, Data Leakage, etc) nos últimos dois anos e isso tem sido um dos grandes fatores da preocupação das empresas por cibersegurança. Fato que a chegada das regulamenções como a GDPR tem fortalecido a exigência por um Data Privacy Officer em organizações que coletam ou armazenam dados de cidadãos europeus. Vale ressaltar que o presidente Temer sancionou a nova LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais) de cidadãos brasileiros no qual as empresas terão até 18 meses para se adequarem, caso negativo o risco de reputação e multa pode chegar até 4% do faturamento da organização, ou seja, pode levar até a falência. É isso mesmo, o Brasil de “terra sem lei” passa a ser um dos países mais avançados no tema.

Uma nova restruturação na formação destes profissionais -> Nos EUA ĂŠ muito comum os veteranos que serviram o exĂŠrcito, força aĂŠrea e marinha migrem para a ĂĄrea de cibersegurança. Na realidade a grande maioria dos CISOs na AmĂŠrica ĂŠ ex-militar e traz na bagagem o conhecimento profundo de segurança fĂ­sica e aplicam no mundo de tecnologia como Cloud, IoT, Big Data, etc, com muita facilidade.

Enquanto a escassez pela falta de profissionais com esta especialização continua afetando o mercado e as universidades não conseguem formar profissionais suficientes, Ê visível que nos últimos dois anos o surgimento por cursos especializados em Cybersecurity tem aumentando, mas mesmo assim ainda não resolve o problema, pois a mudança tem que ser no Mindset da cultura, com o propósito de incentivar os jovens pelo gosto de trabalhar com tecnologia. Por exemplo, o Miami Dade College criou recentemente um Cyber Security Center of the Americas para formação de profissionais em cybersecurity e tambÊm para a formação de executivos capazes de gerir a segurança da informação na alta direção. A iniciativa tem sido criada a fim de incentivar os estudantes a ingressarem na årea de cibersegurança.

Olhando para o Brasil, Ê o contrårio. A maioria dos profissionais em cibersegurança costuma migrar da tecnologia para a årea e o grande eixo que dificulta estes profissionais Ê capacidade de absorver habilidades de comunicação e articulação, traduzindo um reporte de um risco crítico em cloud para organização com clareza e objetividade para os executivos.

Infelizmente os gaps existem, fato que muitos programadores saem fera da universidades, mas não possuem uma base para desenvolver um sistema ou um mobile application com a devida segurança. Por outro lado, a luta contra o tempo que os profissionais em cibersegurança enfrentam em gerir as atividades diårias e se manter atualizados ainda corre um pouco atrås dos bad guys. Enquanto que um black hat gasta todo seu tempo explorando vulnerabilidades em softwares, os profissionais em cibersegurança estão apagando incêndios. Notório que no Brasil o investimento do budget em cibersegurança ainda tem sido muito pouco, Ê comum ainda encontrar líderes de segurança que ao mesmo tempo que estão atuando no hands on, em paralelo precisam lidar com o estratÊgico. E serå que sobra tempo de serem capazes de proteger a organização com eficåcia realizando o propósito no qual foram contratados a fazer?

Por outro lado, na AmÊrica, onde muitas tecnologias são criadas e cabeças e cabeças de mestres surgem, o mesmo mercado não acompanha o surgimento de experts em cibersegurança capazes de proteger as novas tecnologias como cloud. O bom disso tudo Ê que o mercado continua em ascensão e tudo indica que haverå muitos anos pela frente de muito trabalho gerando valor a cibersegurança para as empresas.

Isto nĂŁo ĂŠ uma especulação, mas uma realidade que algumas cidades como  Miami jĂĄ despertaram e colocaram em prĂĄtica um plano de ação para nĂŁo serem impactadas no futuro. Como costumo sempre citar um provĂŠrbio do sĂĄbio: VocĂŞ que estĂĄ dormindo, acorde! Levante-se e aja! Portanto, nĂŁo devemos ser ignorantes com a realidade, mas agir como sĂĄbios antecipando e prevenindo dos desastres, pois vale um piscar de olhos para acontecer.  Enfim, com a chegada desta nova lei em nosso paĂ­s, serĂĄ mesmo que o governo e as empresas irĂŁo despertar? Bom, quanto a resposta conheceremos no tempo oportuno e o que basta agora ĂŠ acreditar e agir!

*Rangel Rodrigues Ê trusted advisor em Segurança da Informação, CISSP e pós-graduado em Redes de Internet e Segurança da Informação pela FIAP e IBTA, e MBA em Gestão de TI pela FIA-USP

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